No limiar condescendente das coisas que não se sabem, vi erguer-se o teu vulto.
O tempo era o outro. Pertencia à altura dos cansaços. Dos momentos confusos do pensamento.
Sabia que eras tu, mesmo não tendo a certeza. Mesmo não sabendo de cor o espaço em que caminhavas...
Estava deitado. Estava cansado. Quando estamos deitados, o sangue que outrora se expande pelo nosso corpo inteiro, marca reunião só num ponto e nesse mesmo ponto se fixa.
Era estranho.Era original.
Soava dentro de mim, algures em mim, o metrónomo enérgico que todas as noites nascia com o olhar...
O teu corpo estava lá. A tua imagem também, mas o que mais luz tinha eram as mãos cadavéricas que antes tocavam no piano da minha imaginação. Como se escutasse pormenorizadamente cada palpitação que o meu coração desenhava.
Lembrei-me do escuro das lições. Do subterfúgio pesado em que se findava cada nota e logo começava outra...
Baladas, prelúdios, nocturnos... Senti Chopin nos meus dedos pequenos e na nossa ligação, no esgar brando que nos fazia chorar em compassos lentos e demorados com o medo de nos perdermos...
domingo, 2 de maio de 2010
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