Adormeci a contar os soluços do vento, prolongando-o em espasmos de realidade, debruçado-me na penumbra da janela. Era confortável o clamo e derramado silêncio que se despia até meus pés. Havia uma estranha confortabilidade de me ter ali sozinha, confrontando-me comigo própria, mas esse era apenas o sinal de que estava ali e que algo era possível. Pensava que não iria durar muito esta estadia, este aprisionamento a uma morte prematura que faço nascer cada vez que me movo, a uma distância entre a minha pessoas e o espaço escuro que é somente vazio. Resgurado-me com o Inverno lá de fora. Sou o frio que chora o Inverno de agora e analiso os estádios da minha vida.
O silêncio estava cómodo. Coloquei uma música suave mas que se tornou num mero desconforto, como tudo o resto a minha volta. Acordes desordenados, ritmos largados a um acaso faziam da minha partitura um eterno fechar de olhos, uma eterna falta de controlo, uma insegurança. Fechar os olhos já não era tranquilidade, já não era aparente calma… Peguei num livro abandonado que se encontrava na cómoda, e saboreando página a página, tornei-me numa mera letra abandonada e liberta de cada palavras. As imagens à minha frente eram só devaneios cínicos e egoístas de me ver a mim mesma sozinha em vários sítios. Pensava nas ondas de um mar qualquer que desgastam a terra que tem o trabalho de se formar. Inquietudes passageiras talvez façam de mim este animal turbulento que é mais imagem do que paisagem. Sentia-me feliz ao ler cada palavra, ao sentir cada emoção num efeito autêntico de catarse e as palavras caiam como gotículas, abandonadas e deixadas. Tão somente restadas, quanto quantificadas. Sou mais uma delas, eu sei, mas a diferença é que me formo em todas elas e ao reflectir-me nessa mancha sou a paisagem que as integra. Deslizo entre a vontade de ser e o que já sou, esse pincel mascarado que com as lágrimas da cor pinta a sobeja tristeza que se adeja. As linhas inquietas desse todo igual. Mera paisagem, mera pintura desfigurada, da mais certa a mais verdadeira…
domingo, 17 de outubro de 2010
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