Os minutos pesam silenciosamente a tua chegada numa inquietude atroz. Roubam a vontade de ser ao tempo, demorando-te enquanto não registas a tua presença junto das minhas pernas frias. Resta o som demorado a meu lado, o Inverno estival célere que se cansa de ser ele mesmo por não sentir o afago dos teus olhos. Às vezes tudo funciona assim, nesse mecanismo quase resoluto em fazer aceitar as coisas que nos perseguem na vida, nesta existência em mim já marcada à nascença, pela diferença de ser quem sou.
Desafogo saber que voltaste. Que o vento escuro que norteava a minha estrada, era apenas nevoeiro claro que firmava o teu caminho. Ouvia de mansinho os teus pés de prata, aconchegando-me com a sombra que a tua imagem delineava no meu corpo. Tudo são desvarios cansados que formas, sem dizer uma única palavra. Ventos sombreados entre dedos abandonados em recordações pálidas por nunca viverem em si mesmo, cansadas.
Revolto a almofada, símbolo de minha castidade pela tua ausência, e desnudo pensamentos só nossos, entre lençóis ou nas passagens frias que a realidade cria sem sentirmos. E esgotante ter que me apaixonar pela imagem que deixaste, percorrendo o único pedaço de chão que pisaste ou agarrando-me aos beijos que em vão me destes. Beijos que já não são nossos. São do porto que te levou e do bordou que te abandonou. Do mar que nunca e meu e sempre e daquele que o há-de ter...
Roubei a vontade de navegar ao mar
vontade fervorosa de me abater em tua fronte rochosa
sou o sal que abandonado se entrega ao passado
pescador em terra, nesse mar que me encerra
...Dispo o sal que me cobre sem saborear
a fina areia que me cobre o rosto em desgosto
o cansaço deitado nas ondas embalado
essa tristeza que me consome, e que em meus ombros dorme...
"Soturno Pescador" por VRM
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
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