sábado, 24 de abril de 2010

Da cor do nada (Parte III)

Hoje fui infeliz e sofredor vendo os segundos latejar com o vento, contando as folhas que bailavam na água por baixo do pomar, e os sonhos que a terra ia pisando acumulando-os de um desespero calmo e pesado. Sonolento ate. Desprezado pelo mundo lá de fora se esquecer dos frutos podres, indaguei à minha consciência para que me largasse e me acolhesse nos impulsos de viver. Como tudo do lado de cá parece mais escuro... como o peso da noite e a escuridão do dia são mais infelizes com o verde já gasto da primavera encoberta.
Olhando à janela, fixei a minha imagem no espelho. Ouvindo a melodia dos meus pensamentos, deslizando entre o grave e o agudo, acolhi-me no necessário desprezo da realizado e olhei para os meus olhos. Mirei as pálpebras pesadas que aclaravam o tão mirrado olho. Não sabia a cores deles. Desde que o Inverno se mantém na minha existência e a tardia e esperançada primavera apenas se vê ao fundo do túnel, que não distingo o preto do cinzento, o verde do azul. Tudo é Primavera, quando todo o Inverno que de mim se apodera, se apoia ao longe nas marés afastadas de mim.

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