domingo, 25 de abril de 2010

Da cor do nada (Parte VI)

A sensação, o toque etéreo ainda que pálido das coisas, transmite-nos ideias, memórias, sugestões. A sensibilidade para as coisas, a nossa perícia cultural, e até a nossa glor são formadas num jogo de nadas que cada sensação nos transporta. Se piso o chão do quarto, o tapete já mastigado de tantas sugestões, de tantas marchas e andares trocados, sinto-me um ventríloquo. Um boneco de corda comandando pelas coisas que pisa, pelas coisas que traz nos pés e pela pena que se sente que voa, paira e toca ao de leve sob a estrutura deste tapete.
Era um tapete persa. Daqueles comprados numa feira antiga, escondida algures em meandros subalternos. Nesse tapete, cingiam-se tempos passados, imaginavam-se memórias futuras, qual fruto verde da árvore mais velha. A intenção, o pisar sempre nocturno lento e pesado, o sono tornado vida quando o despertar se desfaz pelos encantos do pensamento, as imagens revoltadas, trocadas, pensadas mas em nada realizadas. Neste tapete, que me de cor a planta dos pés e que me desliga do exterior para me ligar no interior, para me concentrar nas intermitências de mim e nelas afogar subsequentes desejos pensados. Sempre pensados... sempre sonhador, mas nem sempre adormecidos...

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