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A vontade de te ter, o possuir, o desejo de contigo ficar leva-me a ver a tua face em tudo, a ser encenador da minha vida, escritor da minha existência, poeta das palavras que escolho, pintor das imagens que faço perante ti. Pode ser muito estranho, mas vi a tua imagem, a nossa imagem numa mesa de um simples bar. Daqueles bares de faculdade, povoados por conversas de matéria, ou até conversas que encobrem a maioria dos adolescentes… menos eu. Ao pé de ti, não sou adolescente… Ao pé de ti, sou um bebé, com corpo de criança… Um homem, com atitude de recém-nascido, sem fala, sem gestos, amedrontado com aquilo que tu irás pensar….
O café não era muito forte. Ultimamente, as coisas em mim têm um impacto diferente e tudo me parece distante, forte, prolongado, diferente, estranho. Pedi o café, na minha pose desleixado, mas ainda assim educada e esperei que mo viessem trazer. A demora inicial fez com o olhar os mais variados sítios onde poderias estar, mas em cada um deles apenas te podia imaginar… Só imaginar…. Poderia dizer que estava a sonhar acordado e fui bruscamente despertado pelo tilintar potente da chávena contra a mesa. Considerei aquele batuque não como uma afronta ou um obstáculo contra a minha imaginação, mas como uma voz submersa da minha consciência que me dizia “Acorda”… E assim fiz eu… Pousei os olhos sobre a chávena, analisei o pacote de açúcar a testei a textura da colher de plástica contra a chávena envidraçada, como sempre fazia. Ao pousar os olhos sobre a chávena, vi na espuma do café o teu cabelo desgrenhado, na sua cor, a tez intensa do teu cabelo e no castanho mais claro o oásis dos teus olhos que me hipnotizam apenas numa fracção de segundo. Tentei então ver onde a minha imaginação dava e coloquei açúcar sobre os meus instintos. Mal-dita hora que o fiz!!! Depois daí, bebi aquele café com o maior azedume, mexendo e remexendo até te encontrar, mas nada… nada de nada. Pior ainda, uma rapariga loura com um jeito um quanto de mimada estava a fumar um cigarro e eu só pensava que a minha vida fosse assim. Estava a envelhecer, e estava a perder as cinzas, a tua imagem, por a coragem de ter e a atitude de te possuir serem invisíveis…. Pouco visíveis, ou mesmo nada visíveis…
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