terça-feira, 30 de novembro de 2010

Essa memória de uma noite assim...

E assimm fico, permanecendo intacto ao que não existe e ainda assim persiste à minha volta. Desventuras pela demanda de um qualquer achado deixam o meu sossego inerte e oferecem-lhe um tom confuso de silêncio ruidoso. Não sei de que cor é a existência; De que se compadece esse doce desassossego que jamais é senão a afirmaão de silencios. Estas parado. Esta calado. Está inerta mas e ruidoso. É assim, aquele dia ressacado da noite, qual sombra pálida que trabsfroma a noite em dia e a ouve em tempestade, chorando as alegrias. Qualquer que seja o poema que a noite escreve nas estrelas, eu mantenho-me intacto ao beijo que em mim se despe. Esse beijo que retira e atira, essa sede de pintar com sentimento, de viver em tormento comigo mesmo e amar a paixão desenfreada que não controlo mas imagino. É esse ensaio de vida, esse violino desafinado, esse acorde pousado, em que as notas são repletas de dissabores e se unem num todo.

Oh noite que me despes e controlas! Quem me syuporta o dia gasto e o descarrega em meus ombros! Que me pesa as angustias e as transporta nessa alegria triste que são os pensamentos. Que me eleva em pensamento o triste sofrido que é o meu desejo oprimido. Oh noite.... faz de mim guarda das tuas preces; faz de mim a sombra escura em que a àrvore adormece e o voo frio em qeu a cotovia se deleita em prazer. Faz-me teu, faz-me só. Faz de mim aquele céu escuro em que repousas teu corpo suave e me dedicas poemas ao ouvido, faz de mim neblina farta que se assola pelo mundo ser seu e se contenta com o espaço todo.. faz dos meus pés penas que erguem o voo do faisão raivoso, das minhas pernas, as colunas que suportam o teu altar nocturno, dos meus joelhos, o suporte do medo, a ansiedade da saudade...

Dispo-me para ti para em segredo seres minha. Pego-te nos cabelos e torno-os extensão do meu corpo pesado que em estátua se encontra reconfortado.. Faz de mim assim, tal e qual assim, devorando-me com o escuro e fazendo dos meus olhos, a luz que ilumina a pena do poeta... Sou a pena do poeta, desvairada e de sentimentos carregada, tão trsite, tão alegre, tão só de somente assim

domingo, 17 de outubro de 2010

Voltar a ser, existindo...

Adormeci a contar os soluços do vento, prolongando-o em espasmos de realidade, debruçado-me na penumbra da janela. Era confortável o clamo e derramado silêncio que se despia até meus pés. Havia uma estranha confortabilidade de me ter ali sozinha, confrontando-me comigo própria, mas esse era apenas o sinal de que estava ali e que algo era possível. Pensava que não iria durar muito esta estadia, este aprisionamento a uma morte prematura que faço nascer cada vez que me movo, a uma distância entre a minha pessoas e o espaço escuro que é somente vazio. Resgurado-me com o Inverno lá de fora. Sou o frio que chora o Inverno de agora e analiso os estádios da minha vida.
O silêncio estava cómodo. Coloquei uma música suave mas que se tornou num mero desconforto, como tudo o resto a minha volta. Acordes desordenados, ritmos largados a um acaso faziam da minha partitura um eterno fechar de olhos, uma eterna falta de controlo, uma insegurança. Fechar os olhos já não era tranquilidade, já não era aparente calma… Peguei num livro abandonado que se encontrava na cómoda, e saboreando página a página, tornei-me numa mera letra abandonada e liberta de cada palavras. As imagens à minha frente eram só devaneios cínicos e egoístas de me ver a mim mesma sozinha em vários sítios. Pensava nas ondas de um mar qualquer que desgastam a terra que tem o trabalho de se formar. Inquietudes passageiras talvez façam de mim este animal turbulento que é mais imagem do que paisagem. Sentia-me feliz ao ler cada palavra, ao sentir cada emoção num efeito autêntico de catarse e as palavras caiam como gotículas, abandonadas e deixadas. Tão somente restadas, quanto quantificadas. Sou mais uma delas, eu sei, mas a diferença é que me formo em todas elas e ao reflectir-me nessa mancha sou a paisagem que as integra. Deslizo entre a vontade de ser e o que já sou, esse pincel mascarado que com as lágrimas da cor pinta a sobeja tristeza que se adeja. As linhas inquietas desse todo igual. Mera paisagem, mera pintura desfigurada, da mais certa a mais verdadeira…

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sombra de Espelhos

Os minutos pesam silenciosamente a tua chegada numa inquietude atroz. Roubam a vontade de ser ao tempo, demorando-te enquanto não registas a tua presença junto das minhas pernas frias. Resta o som demorado a meu lado, o Inverno estival célere que se cansa de ser ele mesmo por não sentir o afago dos teus olhos. Às vezes tudo funciona assim, nesse mecanismo quase resoluto em fazer aceitar as coisas que nos perseguem na vida, nesta existência em mim já marcada à nascença, pela diferença de ser quem sou.
Desafogo saber que voltaste. Que o vento escuro que norteava a minha estrada, era apenas nevoeiro claro que firmava o teu caminho. Ouvia de mansinho os teus pés de prata, aconchegando-me com a sombra que a tua imagem delineava no meu corpo. Tudo são desvarios cansados que formas, sem dizer uma única palavra. Ventos sombreados entre dedos abandonados em recordações pálidas por nunca viverem em si mesmo, cansadas.
Revolto a almofada, símbolo de minha castidade pela tua ausência, e desnudo pensamentos só nossos, entre lençóis ou nas passagens frias que a realidade cria sem sentirmos. E esgotante ter que me apaixonar pela imagem que deixaste, percorrendo o único pedaço de chão que pisaste ou agarrando-me aos beijos que em vão me destes. Beijos que já não são nossos. São do porto que te levou e do bordou que te abandonou. Do mar que nunca e meu e sempre e daquele que o há-de ter...


Roubei a vontade de navegar ao mar
vontade fervorosa de me abater em tua fronte rochosa
sou o sal que abandonado se entrega ao passado
pescador em terra, nesse mar que me encerra

...Dispo o sal que me cobre sem saborear
a fina areia que me cobre o rosto em desgosto
o cansaço deitado nas ondas embalado
essa tristeza que me consome, e que em meus ombros dorme...

"Soturno Pescador" por VRM

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Da cor do nada (parte XIV)

Hoje debati-me a estudar as passagens que o tempo faz na vida.. a escutar-lhe as curvas e estar atento às suas modificações. Passagens são passagens... sao luzes rasgadas, pela noite apagadas... sao horas passadas pela passagem terminadas... sao ondas que o mar nao aproveita e que o abandono se afeita. Tudo anda, tudo tem o seu movimento cíclico e torturante de se seguir ao que passou. Não se manifestando nem mostrando complacência por quem passa, decide seguir e arrastar idades, circunstâncias, experiências, marés, feridas... arrasta, suporta, carrega e leva em sua demanda... O desperdício de tempo que temos em lhe dar importância, em lhe conceder atenção quando o vimos nos relógios, no tempo, no clima, ao espelho, nas paisagens que passaram, nas recordações que ficaram... Começo a reflectir agora sobre isto e percebo que o tempo me sujeitou à suas discretas inventivas, aos pequenos pormenores que me mostra no espelho e me ressurgem na alma como parte de uma existência descontrolada..
Levantei-me, soerguendo-me ao sol e escutando o pesar pesado que se acometia naquela sala... O cortinado estava fixo na sua rigidez absoluta e o tempo que se distanciava por entre os tecidos escuros, estava pesado e desenhava uma luz estranha no chão... aquela luz era diferente... nunca a tinha visto desta forma.. pode ser ate uma chamada, quem sabe o ressurgimento de algo ou até o invocar de alguma coisa? Tempo, tempo, tempo...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Da cor do nada (Parte XII)

O sonho tem os dias contados. A realidade ja marca limites, os sentidos ja são fracos e as emoções, essas, vivem debaixo das lágrimas de cada um. E nos momentos de querer de cada um, que vejo que a terra não e redonda. Tudo e liso. Tudo começa. Tudo acaba. Nem o tempo que nos segue, nem o passado que nos persegue, nem o futuro que nos irá seguir são tempos marcados do instante mais que distante. E apenas a janela fechada, da porta grande que cada um marca nas suas realidades!

domingo, 2 de maio de 2010

Da cor do nada (Parte XI)

No limiar condescendente das coisas que não se sabem, vi erguer-se o teu vulto.
O tempo era o outro. Pertencia à altura dos cansaços. Dos momentos confusos do pensamento.
Sabia que eras tu, mesmo não tendo a certeza. Mesmo não sabendo de cor o espaço em que caminhavas...
Estava deitado. Estava cansado. Quando estamos deitados, o sangue que outrora se expande pelo nosso corpo inteiro, marca reunião só num ponto e nesse mesmo ponto se fixa.
Era estranho.Era original.
Soava dentro de mim, algures em mim, o metrónomo enérgico que todas as noites nascia com o olhar...
O teu corpo estava lá. A tua imagem também, mas o que mais luz tinha eram as mãos cadavéricas que antes tocavam no piano da minha imaginação. Como se escutasse pormenorizadamente cada palpitação que o meu coração desenhava.
Lembrei-me do escuro das lições. Do subterfúgio pesado em que se findava cada nota e logo começava outra...
Baladas, prelúdios, nocturnos... Senti Chopin nos meus dedos pequenos e na nossa ligação, no esgar brando que nos fazia chorar em compassos lentos e demorados com o medo de nos perdermos...

Da cor do nada (Parte X)

Há quem chame saudade àquilo a que eu chamo distância. O espaço sem fim, com curvas e contracurvas, cansa-me, desgasta-me… saber que algo está longe e que cada vez o perto é mais distante, revira-me os pensamentos e torna-os apenas impressões. Aquilo que realmente sinto existe. Está longe por de trás do horizonte, mas existe… Isso existe, ou pelo menos há na minha mente, vagueando entre as paredes mal coladas... na minha imaginação perdida que denomino de loucura…

domingo, 25 de abril de 2010

Da cor do nada (Parte IX)

É estranho, talvez até inconcebível... mas hoje só consigo pensar em Farinha... O cheio, o toque, a força... Tudo na farinha é humano. Molda-se, transporta-se e quando magoada revolta-se e manda-nos para os olhos o seu pó. A sua integridade, o seu estatuto. Se lhe mandamos água, fica a boiar, a pensar e acorda sempre cá em cima. Se dela fazemos uso, e lhes damos a consideração necessária, cresce e vive dentro de nós mesmos. Há farinhas deliciosas, amargas, umas com sabor a menos, outras com sabor demasiado... Como as pessoas... Por hoje escrevo-te isto, pode ser que o amanhã de amanhã seja mais claro que o escuro de ontem e que o nada de hoje. Uma hipótese, talvez uma sugestão. Nunca uma certeza. Considero-te...

Da cor do nada (Parte VIII)

Apresento sempre o meu esttatuto, a mesma classe de opiniões, o mesmo grupo de hipóteses. Se sorrio penso que choro porque troquei as voltas ás lágrimas. Se choro, penso que rio porque represento a minha Mona Lisa. AS lágrimas caem quentes, porque um dia foram frias. Os pensamentos, quebradiços como ervas do campo mais triste, amontoam-se como que se superiorizando e não me deixam pensar. Hoje pensei que o mundo fosse plano. Talvez assim fosse melhor. Muito melhor. Todas as pessoas que ficavam atrás de nós ou que nos ultrapassavam, ficavam longínquas de nós mesmos e não necessitávamos de as ver de novo. Bastava nelas pensar para continuar.
O meu mundo plano, horizontal é como uma corda. Tempos que aproveitar todo seu comprimentos para procurarmos a razão de estarmos lá em cima. Precisamos de pensar em divagar para jamais aterrar...

Dar cor do nada (Parte VII)

Repugne-nos a nós próprios pensar que antes fomos alguma coisa para hoje sermos estátua de nós próprios. Sermos o retrato de um vidro já tocado. Ser o objecto já mexido, talvez já partido.
Assusta-me a minha ignorância, porque nela não conheço as advertências de mim mesmo.
Amedronta-me o medo, porque não lhe conhecer os limites e os pesados pensadores.
Revolta-me o sombrio por nele estar coberto de um escuro esotérico que divaga.
Sensibiliza-me o querer gritado, manifestado apenas no silêncio medroso e amedrontado.
Descubro-me em cada etapa de mim mesmo, em cada sonho que interligo com a realidade, nunca sabendo qual destes momentos o mais acordado. Toco-me em mim, apresentando-me ao espelho os olhos, esses pincéis que tanto em nada mergulharam e que agora não saem do copo, do objecto afogada de água pelas lágrimas jamais vertidas.
A paleta de cores varia entre o que se pensa e o que se ergue à volta. Entre o que se diz e o que se pensa.
As vezes perco-me em infinitos gastos por não conseguir perdurar com a cruz que carrego. Por me arrepender de considerar que isto que me faz andar chama-se vida. Por saber que nada nem ninguém olha os caminhos da solidão como a liberdade de nós mesmos e nele se prende, nele cai para neles um dia... quem sabe... se levantar. Talvez erguer e continuar. Talvez parar e pensar... Talvez sonhar para um dia desejar... Um dia... esse momento vago de horas precipitados e segundos deitados em camas de sonhos...

Da cor do nada (Parte VI)

A sensação, o toque etéreo ainda que pálido das coisas, transmite-nos ideias, memórias, sugestões. A sensibilidade para as coisas, a nossa perícia cultural, e até a nossa glor são formadas num jogo de nadas que cada sensação nos transporta. Se piso o chão do quarto, o tapete já mastigado de tantas sugestões, de tantas marchas e andares trocados, sinto-me um ventríloquo. Um boneco de corda comandando pelas coisas que pisa, pelas coisas que traz nos pés e pela pena que se sente que voa, paira e toca ao de leve sob a estrutura deste tapete.
Era um tapete persa. Daqueles comprados numa feira antiga, escondida algures em meandros subalternos. Nesse tapete, cingiam-se tempos passados, imaginavam-se memórias futuras, qual fruto verde da árvore mais velha. A intenção, o pisar sempre nocturno lento e pesado, o sono tornado vida quando o despertar se desfaz pelos encantos do pensamento, as imagens revoltadas, trocadas, pensadas mas em nada realizadas. Neste tapete, que me de cor a planta dos pés e que me desliga do exterior para me ligar no interior, para me concentrar nas intermitências de mim e nelas afogar subsequentes desejos pensados. Sempre pensados... sempre sonhador, mas nem sempre adormecidos...

sábado, 24 de abril de 2010

Da cor do nada (parte V)

Hoje esqueci-me de pensar que a fantasia um dia existiu na minha vida, que a loucura já passou a meta e que a beleza um dia me fascinou. Esqueci.me de viver a pensar se ser é mais difícil do que viver a pensar que podia ser. Fui até à bacia, ou melhor ao pequeno alguidar colocado naquele pequeno andaime de madeira. Depois de me olhar e pensar que ainda conservo alguma infância nas formas redondas do rosto, no pensar mais baixinho e no segredo mais desvairado, contado pelo vento naquele banco de jardim. Decidi lavar a cara com o mesmo sabão de sempre. Todavia, hoje o cheiro foi especial. Se noutros dias os associava ao quarto já visto e no pormenor mais escondido, evoquei os pedidos feitos à minha mãe naqueles sábados de fim de tarde, quando o trabalho já não poupava esforços. Lembrava-me do cheiro das coisas que tocava, do som daquilo que ouvia esquecendo-me da dor que sentia. Por momentos até, quem sabe, fui livre de pensar que a felicidade é um estado. uma estação como a primavera que invade o inverno, transformando-o...

Da cor do nada (Parte IV)

Quando por nada de um mais nada já preenchido por um nada imenso nos vale olhar pela janela, ouvimo-nos a nós próprios. Canções já evocadas, memórias já deixadas de quem nunca aprendeu a esquecer e um dia se lembrou de viver.
É triste dizê-lo... ainda mais triste pensá-lo, mas aquele piano nunca mais teve a cor da infância. Os gritos marcados de felicidade, os dedos infantis cheios de lama que tocavam naquelas teclas maduras, os olhares entusiasmados que se espalhavam na estante dele... Já para não falar que tudo era Mozart, Boccehrini e Ramsés... Se num dia era o "Lago dos Cisnes" era belo e sob um fundo imenso, reflectia felicidade, hoje o "Moonlight" descreve o peso... soluciona-o... Sou um autêntico pintor, músico até, mais sentimentalista do que artista.
A cor daquelas melodias desvairadas tocadas no sonho da idade e manobradas pela infantilidade, são agora postadas e enterradas num terreno já gasto e pisado. Que piano este onde cultivo a ingratidão e manifesto a vontade de adormecer na dor... Já nada é tão rico, nada mais brilhante. Já nada é devolvido como era recebido. Cada nota, cada tom, cada lágrima pintada naquele abstracto sonho chamado "realidade"

Da cor do nada (Parte III)

Hoje fui infeliz e sofredor vendo os segundos latejar com o vento, contando as folhas que bailavam na água por baixo do pomar, e os sonhos que a terra ia pisando acumulando-os de um desespero calmo e pesado. Sonolento ate. Desprezado pelo mundo lá de fora se esquecer dos frutos podres, indaguei à minha consciência para que me largasse e me acolhesse nos impulsos de viver. Como tudo do lado de cá parece mais escuro... como o peso da noite e a escuridão do dia são mais infelizes com o verde já gasto da primavera encoberta.
Olhando à janela, fixei a minha imagem no espelho. Ouvindo a melodia dos meus pensamentos, deslizando entre o grave e o agudo, acolhi-me no necessário desprezo da realizado e olhei para os meus olhos. Mirei as pálpebras pesadas que aclaravam o tão mirrado olho. Não sabia a cores deles. Desde que o Inverno se mantém na minha existência e a tardia e esperançada primavera apenas se vê ao fundo do túnel, que não distingo o preto do cinzento, o verde do azul. Tudo é Primavera, quando todo o Inverno que de mim se apodera, se apoia ao longe nas marés afastadas de mim.

Romeu

Por detrás daquele mundo, onde o horizonte espalha o medo e o receio, onde o fogo intervém para nos queimar as faces molhadas, no longínquo sobressalto, desfeito de receios, medos e desvaneios, encontramos a outra face pertencente. Ao que eramos, junta-se o que somos, nos abraços escondem-se esperanças, nos olhos aventuras, nos sexos... esses... desejos e beijos de quem encontrou o EU no espelho... Por mais de cem palavras, um único pulsar, aquele segundo diferente do que passou e que simplesmente se revelou...

sexta-feira, 19 de março de 2010

Da cor do nada - Parte II

Naquele dia impelia-me uma vontade de voltar a ver o sol. Sabia que era da cor da alegria porque quando raramente sentia este sentimento lembrava-me da sua luz brilhante e perguntava-me para mim mesmo a sua cor. Levantei-me da cama e sentei-me à escrivanhinha. Peguei na pesada caneta cheia de mágoas e tristezas e lembrou-me de lembrar-me, mas não consegui… a pessoa triste que morava em mim havia ficado entre os lençóis que me cobriam a respiração pesada durante os momentos da noite. Há dias em que as pessoas são felizes a não serem elas mesmas. Há dias em que as pessoas são tristes, mas felizes porque encaram os sentimentos de forma verdadeira.
O dia não estava muito frio, mas havia uma brisa estranha no ar que me pesava o andar. Tornava-me normal, sendo estranho estar ali. Talvez até demais…
II

Naquele dia impelia-me uma vontade de voltar a ver o sol. Sabia que era da cor da alegria porque quando raramente sentia este sentimento lembrava-me da sua luz brilhante e perguntava-me para mim mesmo a sua cor. Levantei-me da cama e sentei-me à escrivanhinha. Peguei na pesada caneta cheia de mágoas e tristezas e lembrou-me de lembrar-me, mas não consegui… a pessoa triste que morava em mim havia ficado entre os lençóis que me cobriam a respiração pesada durante os momentos da noite. Há dias em que as pessoas são felizes a não serem elas mesmas. Há dias em que as pessoas são tristes, mas felizes porque encaram os sentimentos de forma verdadeira.
O dia não estava muito frio, mas havia uma brisa estranha no ar que me pesava o andar. Tornava-me normal, sendo estranho estar ali. Talvez até demais…

quarta-feira, 3 de março de 2010

Da cor do nada - Diário

Parte I

Dei às horas de cansaço minutos de silêncio. Sobrevivi à quietude apaziguadora de não ter nada por fazer e restei-me a descansar ali, olhando no silêncio da escuridão a luz que entrava pela janela. A consciência que me implicava a olhar as imagens mórbidas que se formavam na carpete do quarto, impeliam-me a ter medo de mim e a sobrevoar os cantos da minha imaginação. Gostava de observar em cada pormenor, num jeito quase mórbido, a forma estranha que se formava e comparar tais imagens a ventos fortes que na minha consciência assolavam, a recordações medíocres, a pensamentos estranhos. Quem sabe até, a taras desconcertantes. Percorridas as vielas do meu subterfúgio, é chegada a hora de pousar e de entregar o meu corpo aos pensamentos. Quem sabe até, dormir…

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Porque a minha bela adormecida não é igual à tua...


Hoje encontrei a bela adormecida morta. Ou melhor adormecida. Devia estar à espera que meu vergasse sobre e a beijasse. Mas esquece-se que no mundo onde ela vive todos se baixam, todos se respeitam, todos sabem o significado da palavra igualdade. Mas no mundo, não me vergo sobre ninguém.
Tentei chorar, mas não consegui. Ainda assim fiz uma cara triste.
Gostava da forma como ela estava vestida. Como dispunha as mãos sobre o corpo. Como tinha pousada a cabeça.
A forma como fechava os olhos davam-lhe um ar quase patético, mas era querido… Tava a dormir para esta vida.
Em vez dos sapatos de salto alto, tinha uns ténis rotos e sujos.
Em vez de um grande e brilhante vestido tinha uns jeans rasgados, um top branco e uma coisa estranha ao pescoço, mais parecido com um aparelho genital do que com outra coisa.
Era estranho, mas nem o penteado era como me tinhas contado. Tinha um cabelo rosa quase como uma boneca cheio de totós e tinhas as unhas pintadas de vermelho!
Acho que me enganei na porta. Afinal não entrei no meu mundo infantil.
Entrei no meu mundo mais maduro, mas porco, mais estranho
Aquela não era a bela adormecida.
Era uma puta victoriana que tinha acabado de morrer.
Era a imagem de uma idade, de um século de uma geração, de uma coisa estranha que jamais irei perceber. Uma coisa a que chamam de Vida…

!La Roux!



Gosto…
da maneira como coisas estranhas fazem um sentido estético único.
da loucura tornada extravagância.
da inconsciência tornada atitude.
da rebeldia feita arte.
da maneira como coisas estranhas fazem um sentido estético único.
A loucura feita ciência.
O preconceito virado criatividade.
O papel higiénico tornado tese.
A infantilidade casada com a maturidade.
A ignorância feita imaginação.
A diferença feita em algo único
A procura dentro do W.C. da nossa consciência.
A escarreta feita oceano.
O mijo feito néctar.
O escuro feito discoteca techno.
O azedo tornado apetecível.
O estranho, confortável.
O oprimido, aproximado.
O deficiente, único.
O invulgar, vulgar.
O pisado, elevado.
O avariado feito máquina do tempo.
O lixo feito pastilha de pensamento.
O asqueroso tornado íman.
O preto feito rosa.
O transparente feito visível.
Do estranho feito normal.
Do anormal matar o normal!
Do diferente esfaquear o igual!!!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O sítio do farol vermelho


Era um farol grande, vermelho e gasto. Gasto pelas paredes de um qualquer tempo e lembrado nos recônditos de toda e qualquer memória que por ele se cativasse. Nele estava escrito como numa árvore velha memórias de amor deixados, lamentações de alguém abandonado ou afirmações de quem quer esquecer o que viveu… Quem quer que morasse naquela vila, sabia decor o “sítio do farol vermelho”. Era lá que tudo acontecia e era lá onde tudo se perdia.
Todos queriam ir ao farol apreciar-lhe a altura.
Todos queriam ir ao farol para ver as marés nascer e a areia a perder as suas venturas.
Todos queriam admirar o horizonte longínquo e escrever no céu o que lhes ia na alma.
Todos queriam ir aio farol para pensar, viver, namorar, nascer outra vez, recordar…
O farol abria às 6h30 e fechava às 22h.
Depois das 22h, todos o apreciavam das janelas da sua casa e lhes prometiam cenas para o dia seguinte.
Depois das 22h, bastava a alguns olharem para ele para recordarem aquele dia.
Depois das 22h, velhos, novos, pequenos e graúdos, soluçavam contos e recordações, teciam memórias e histórias sob a sombra do farol.
Ninguém sabe quem criou o farol.
Diz-se ter sido criado pela própria vida, pelas aventuras, pelos amores e desamores que precisavam de ser escritos ou riscados, memorizados ou largados à mercê do destino.
Era o maior e mais especial farol. Nem centenas e centenas de livros, ocupavam as frases que ali foram roubadas pelo tempo nem deixadas pelo destino ou até marcados pelas vidas… Era a vida do farol. O farol que fazia as vidas.
Era o farol da minha aldeia.
Era o farol da minha memória.
Era o farol da minha vida.
Era o meu farol. O meu grande e vermelho, distante e imaginado farol…

O século das minhas paredes


Vivia num século que os outros desconheciam. Pelo menos, a maior parte. Acredito que houvesse alguém como ela, mas não acredito que alguém vivesse como ela.
Viva num século que os outros desconheciam. Não acreditava que a televisão fosse a verdadeira invenção. Teimava em tecer horas e horas paninhos de renda, e acreditava que o seu futuro e a sua riqueza estavam envoltos nos novelos que fazia. Utilizava meias de renda, dormia num sofá vermelho a olhar o vago horizonte e quando lhe apetecia soltava gemidos de um piano desafinado que o avô lhe dera. Era pobre, mas não se achava. Vivia rica, pobremente com as coisas que mais gostava. Só tinha uma boneca e com ela já tinha vivido mais de 1001 histórias, mas acreditava sempre que a verdadeira ainda não foi contada. Tinha apenas um livro de capa amarela, que a cativara pelo seu aspecto antigo, pela imagem de uma mala aberta e pelas suas páginas com cheiro a memória. Não tinha título pois perdera-se as letras com o tempo, mas falava de uma viagem e de um ninguém que se tornara alguém por descobrir que andar é melhor que descansar. Enfim, dizia ela que era o livro da sua vida… E assim de coisas simples, mas ricas para ela, vagueava feliz pela sua casa de campo e passeava os seus cabelos ruivos pelos prados sozinha, a descobrir o que falta para descobrir, ou imaginar o que falta para criar, ou quem sabe viver e sentir de novo a alegria. Mais uma alegria para o seu saquinho de felicidade, mais um momento para recordar, mais uma hora que passou, mais um dia que falta viver, uma imagem para conhecer, um amor para lembrar… Nem que seja o amor de nós próprios reflectido no mais pequeno dos lagos, na mais funda das poças ou na mais cheia das gotas…

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Vago sonho agora acordado


Uma mala vazia, mas uma mão cheia de sonhos. Um olhar perdido, mas uma consciência desperta. Respira fundo, olha em direcção ao comboio que está para vir. Como quem não quer a coisa, levanta-se. Vai até à linha. Volta a olhar o horizonte. Está à espera de algo. Ela sabe que vem algo, alguém ou alguma coisa… Será que é o comboio, ou será quem está dentro do comboio… Será que está à espera de ver uma mensagem passar no vago céu azul? Será que se vai mandar? Contempla e pensa: “Não, ainda não. Pelo menos por agora”. Tira um cigarro, dá uma passa e vê o fumo a ir embora, as emoções a evaporar, a tranquilidade a despertar…

Ele vem aí

Uma coisa inusitada e estranha…
Uma coisa à espera de sair
Algum som vindo de qualquer lado
murmúrios adormecidos nascendo para o falar morrendo para o grito
Uma coisa vem aí…
sem forma, sem cor, sem odor
Uma coisa vem aí…
é branca, preta, cinzenta
Às vezes não tem cor
Não e manifesta, mas dá avisos de quem vem aí
Tem peso de folha de árvore e atitude de gigante
Uma coisa que pode abalar mexer o mundo e trocá-lo
Talvez a terra não seja redonda e tudo faça sentido ao contrário
Ele vem aí… já o sinto… Não tarda muito está aí
Pode parecer pequeno mas vai crescer
Podemos não notá-lo mas ele já nos notou
E não vai ficar por aqui
Vai adormecer, pensar, estabilizar para não atacar
Mas vem em fúria e vai apanhar todos
Vamos todos ser vítimas de um carrasco
Nunca fez nada pela vida e vai fazer de tudo para destruir esta
Alguma manifestação de raiva. Alguma carência de amor. Qualquer carência no silêncio perdida, mostrada, desvendada
Palavras que arrastam vento
Palavras que se dizem e que se vão falando
Ele vem aí… Quando deres por ti já não há saída
Já não vai haver saída
Somos todos vítimas
Vivemos todos em conformidade
Alguns mal com os outros, mas vão parar todos ao mesmo sítio
Ele vem aí
Acreditem em mim… naquilo que lhes digo. Naquilo que sinto que está prestes a chegar
Naquilo que faz tudo… mas não avisa em nada
Naquilo que não tarda muito não bate a porta para entrar
Bate nas casas, nos postes, nas lojas para se revelar
Ele vem aí
Aí vem ele
Segundos de eternidade
Momentos de infinito

Fallen snow


Num nevoeiro escondido que se colocou por cima do seu espírito e fez crescer em si uma sensação de perda daquilo que deixara, o menino contemplou a miragem que se situava do outro lado da janela e imaginava-se a viver perante e no meio daquela imagem. Imaginava-se a mais simples e a mais mera das folhas de um qualquer Outono… Imaginava que poderia voar, que poderia olhar o mundo sem o conhecer, e que não tivesse que pensar num futuro, já que o destino em queda estava previsto, como todas as outras folhas. Como uma erva que se contenta em estar debaixo do chão, que cresce até dar há luz, e quando há luz, ao invés de levar com o sol da manhã ou com o vento de tarde, é esmagada, levado pelo convencionalismo geracional. Como um ramo que envelhece e é obrigado a contemplar sempre o mesmo espaço, encontra-o, admira-o, contempla-o, sobrevive com ele e esquece-se tanto de o ver e de pensar que em tempos o admirava pela sua simplicidade. O olhar, perseguido pelo vazio, lastima-se de si próprio e pesa-se com o silêncio de então, um murmúrio de um nada qualquer, à espera que as lágrimas lhe mudem o sentido, o contemplem, o habitem…

Alison, a ruiva


Era como um objecto de arte. Quando olhamos para um objecto de arte não olhamos para algo com a perspectiva semelhante de uma engomadeira a olhar para o seu ferro ou de um agricultor a olhar para uma enxada. Quando olhamos para um objecto de arte, a nossa imaginação floresce numa criatividade delirante e a nossa sensibilidade recorre à loucura para explicitar racionalmente um fenómeno peculiar de tal e eterna beleza.
Ela olhava para mim com o seu olhar cativante de um outro século e mantinha-se distante de todo o seu apanágio estético. Os seus olhos, cobertos sob uma mancha de rímel, uma linha que lhe destacava a fogosidade do olhar, enfeitiçaram-me o espírito. Se fosse só o espírito que ela despertara… Olhei para ela, mirei-a, desprezei-a com o olhar mas anseei-a com o sexo, e perguntam vocês porque é que tenho a mão afagada sob os pêlos dos meus genitais (ri-se)? Para ter a certeza de que existo, de que valo a pena existir para puder viver e desfrutar de momentos como estes…

Estar e não parecer

Era sempre com os mesmos pensamentos, impregnados de intenso erotismo que ela recordava aquelas noites passadas sob o sol de madrugada. A maneira como os seus pensamentos balanceavam na sua mente de menina-mulher, deleitava-a e fazia-a bambulear o corpo numa dança quase ritual. A atitude ríspida e o ego esotérico, embora vulneráveis, ofereciam-lhe uma atitude de indiferença. As roupas de mulher, pousadas sob uns seios firmes de jovem adolescente, fazia com que o desejo e a excitação daqueles que a viam, a congratulasse com sorrisos desdenhosos. O seu porte, quase neurológico e um olhar denso que vagueava inoportunamente num horizonte vago de emoções privadas, constituíam os seus faróis. A espera de alguém que ouvisse o grito silencioso dos seus lábios ou afastando tudo e todos com o seu toque de cabelo levado ao vento, ofereciam-lhe todo um semblante de magia e fascínio pouco pronunciados. Ruiva nos cabelos e nas pestanas, Alison vivia num pequeno apartamento situado nos arredores da capital. A sua postura estavam ali, mas os seus olhos indicavam outro espaço, as suas mãos outros toques, o seu nariz outros cheiros. Estava ali, mas parecia não estar… Um vulto entre um quotidiano vago, um frenesim de ideias sem sentido. Chuva em pelo verão, floco de neve sob uma praia pousada… algo que não fazia sentido, mas que lá estava e que por isso mesmo alguma coisa mudava.

Sexy Silent!

Ele não precisava de emitir nenhum gesto, de proferir nenhuma palavra. Bastava simplesmente estar ali, calado, silencioso na sua pose descontraída. Era o mais calado, mas também o mais poderoso. Todas as raparigas o desejam montar, e alguns rapazes até ficavam vidrados a contemplar-lhe a existência (Um pouco mórbida diga-se de passagem). Vestido num estilo negro, dark, nublava-lhe uma nuvem de mistério e inquietação. Era raro olhar alguém nos olhos, pois estava sempre cometido nas suas escritas, mas quando o fazia… Quando o faziam, quando o olhavam olhos nos olhos, ficavam vidrados pelo seu olhar rasgado - quase asiático -, e pela sua mistura entre ingenuidade, violência e sexualidade.
Tinha o sexo estampado em todas as suas formas e os seus braços musculados faziam querer que algum do seu tempo livre era dado a certos esforços. Todos queriam saber quem ele era, o que fazia ou o que pensava quando deambulava silenciosamente pelos corredores.
Sentava-se sempre lá atrás, o que fazia com que várias pessoas, quando a situação assim o permitia ou não, olharem para trás, tentando analisá-lo, estudá-lo e o que escrevia ele naquelas aulas de egiptologia. Para além disso, o seu perfume era natural, mas era o melhor. Um néctar criado pelos deuses e debruçado sobre tal rapaz. Um perfume misturado com uma forte essência sexual, erótica e muito, muito PROVOCATIVA!

Argola shakesperiana

É para um dos objectos mais fascinantes. Está certamente na minha lista de objectos de destaque, assim como um qualquer telefone vermelho, um casaco de cabedal, um violino, um Austin Mini Cooper, ou até uma cigarrilha. O brinco, ou melhor, a argola shakesperiana é, para mim, o objecto mais poderoso de todos. Constitui a lista daquele tipo de objectos que não são precisos nenhuns aparatos para serem grandes objectos… e atenção! Não falo naquelas argolas grandes amareladas e cheios de floreados estranhos (de ouro, acho eu ou pelo menos pintadas). Falo das pequenas argolas de prata, como as que Shakespeare tem na sua mais famosa representação. A admiração e a obsessão por este escritor nascido na Inglaterra do século XVI, faz com que ao longo da minha vida… ou melhor, a partir dos 15 anos, persiga este objecto com “unhas e dentes”. (Tenho que esperar para sair fora de casa para a fazer…).
O ar boémio, o comportamento leviano com um certo desprezo pela vida e uma pose de libertino assumido, fazem com que poetas, pintores, actores e gentes do cinema, façam deste adereço (Não é acessório. Acreditem: este objecto transforma quem o possui) um símbolo de arte, cultura e acima de tudo um símbolo do belo e de revolta. É caso para rematar: Viva a Vida!!!

Aquela bóina

Acometia-se-lhe uma estranha confortabilidade, um vago desprezo pela vida e uma sensação de libertinagem. Sentado no banco de trás do autocarro do lado direito, contemplava as imagens que passavam e esboçava sorrisos de uma qualquer satisfação. Mesmo do fundo, sozinho em toda a fileira de bancos, podia ver-se que envergava uns jeans rasgados, uns ténis sujos e desapertados, uma manga-a-cava azul escura, toda amarrotada, como se estivesse acordado agora e, por cima do seu cabelo desgrenhado, uma boina roxa estilo francês. Tal boina oferecia-lhe um ar clássico por cima de uma aparência toda ela desorganizada. Não importava que este teen tivesse desfarrapado, elegantemente vestido ou até nu. O que importava era aquela boina circular, saída de uma nouvelle vague française ou até saída de uma qualquer loja escondida sob os arredores do tempo. Arte, cultura, nível, classe, intelecto… Aquela boina era o verdadeiro aspecto a ser contemplado. Aquilo que encantava as pessoas, e que jamais se esperasse que cobrisse aquele rapaz. Uma autêntica mistura de épocas e géneros, idealismos artísticos confrontados com opiniões estéticas, um dissabor pela vida com uma vontade de viver única. Tudo era especial nesta imagem. É caso para dizer que uma imagem vale mais que 1000 palavras…. Mas muito mais. Acreditem! Muito mais…

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A minha gruta

Há grutas grandes. Há grutas pequenas. Há grutas mais ou menos grandes e grutas mais ou menos pequena. Médias, curtas, compridas… todas as grutas são espaços abertos, luzes ao fundo de um túnel qualquer. Costumo dizer que a minha esperança é uma gruta, daquelas mais ou menos compridas e daquelas mais ou menos grandes. É espaçosa, tem espaço para muita imaginação, mas também é pequena porque não tem espaço para nenhuma coragem. Todos nós temos uma luz ao fundo do túnel, uma esperança, algo que nos faça movimentar todos os dias em torno de um objectivo específico, em busca de algo ou de alguém. A minha luz, a minha esperança é a minha gruta. Vivo literalmente fechado dentro de uma gruta e preciso da porta da coragem ou da janela da atitude para descobrir a luz do dia. Quer queiramos quer não, a verdade é que a minha gruta é diferente de todas as outras. Não é escura, não é suja nem tem insectos grandes e raros. A minha gruta é alegre, grande, coberta por muita imaginação, mas incompleta. Falta-lhe a atitude. Falta-lhe a coragem de chegar ao pé de alguém e de falar, de dizer, de exprimir, de soltar, de fazer, de agir, de realizar, de tentar, de tomar, de dizer, de olhar, de esperar, de ter, de ficar…

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Bad Coffee!


A vontade de te ter, o possuir, o desejo de contigo ficar leva-me a ver a tua face em tudo, a ser encenador da minha vida, escritor da minha existência, poeta das palavras que escolho, pintor das imagens que faço perante ti. Pode ser muito estranho, mas vi a tua imagem, a nossa imagem numa mesa de um simples bar. Daqueles bares de faculdade, povoados por conversas de matéria, ou até conversas que encobrem a maioria dos adolescentes… menos eu. Ao pé de ti, não sou adolescente… Ao pé de ti, sou um bebé, com corpo de criança… Um homem, com atitude de recém-nascido, sem fala, sem gestos, amedrontado com aquilo que tu irás pensar….
O café não era muito forte. Ultimamente, as coisas em mim têm um impacto diferente e tudo me parece distante, forte, prolongado, diferente, estranho. Pedi o café, na minha pose desleixado, mas ainda assim educada e esperei que mo viessem trazer. A demora inicial fez com o olhar os mais variados sítios onde poderias estar, mas em cada um deles apenas te podia imaginar… Só imaginar…. Poderia dizer que estava a sonhar acordado e fui bruscamente despertado pelo tilintar potente da chávena contra a mesa. Considerei aquele batuque não como uma afronta ou um obstáculo contra a minha imaginação, mas como uma voz submersa da minha consciência que me dizia “Acorda”… E assim fiz eu… Pousei os olhos sobre a chávena, analisei o pacote de açúcar a testei a textura da colher de plástica contra a chávena envidraçada, como sempre fazia. Ao pousar os olhos sobre a chávena, vi na espuma do café o teu cabelo desgrenhado, na sua cor, a tez intensa do teu cabelo e no castanho mais claro o oásis dos teus olhos que me hipnotizam apenas numa fracção de segundo. Tentei então ver onde a minha imaginação dava e coloquei açúcar sobre os meus instintos. Mal-dita hora que o fiz!!! Depois daí, bebi aquele café com o maior azedume, mexendo e remexendo até te encontrar, mas nada… nada de nada. Pior ainda, uma rapariga loura com um jeito um quanto de mimada estava a fumar um cigarro e eu só pensava que a minha vida fosse assim. Estava a envelhecer, e estava a perder as cinzas, a tua imagem, por a coragem de ter e a atitude de te possuir serem invisíveis…. Pouco visíveis, ou mesmo nada visíveis…

Near to you

Perto de ti existe uma escada, um obstáculo, uma grande falésia, uma armadilha… Quem sabe, talvez algo ainda mais perigoso… Perto de ti, existe distância. Distância de quem te resiste a olhar, vergonha de quem tem medo que os olhos se cruzem e digam palavras que não querem ser ouvidas, receio de que os outros te tenham, ilusão de contigo puder ficar. Quem sabe, mais que ficar, um dia estar. Um dia encontrar, talvez até mais…
Contento-me em ouvir a tua voz, em escutar os teus gestos, em decifrar as tuas formas e os teus avisos que são tudo ilusão de um pensamento incomodado. Um pensamento tapado, ofuscado com o desejo de te ter, e amedrontado pela vontade de te querer… Não sei o que quero de ti. É isso que tento descobrir todos os dias, ficando-me pelas curtas distâncias em que ficamos, pelas fracas respirações que se entrecruzam, pelos olhos que se incomodam, pelas palavras que não são ditas, pelo fluir intenso sanguíneo, ou por algo mais que se dá em mim, mas que eu mais que perceber, não consigo descodificar. A coragem, essa, já morreu cedo… Desde que te pus os olhos em cima, não sei o que é ter consciência das atitudes, dos fracos pormenores ainda existentes que encobrem uma personalidade, das respostas divagadas mas cheias de atitude que diga. Agora… resta-me ficar tímido, calado, a pensar, a tentar entender-te, a tentar perceber-me e a tentar ver-nos os dois num só mesmo espaço. Porque palavras, essas já se foram. Agora resta só o murmúrio surdo dos lábios e o gritar silencioso dos olhares que quando se tocam, se intensificavam, se revelam, se encobrem, mas se desmancham…

domingo, 31 de janeiro de 2010

Au revoir simone

Há uma luz. Uma luz não muito luminosa, mas também não muito apagada. É uma luz diferente. Não é tão grande, mas é a maior das luzes. Não é tão pequena, mas é uma luz que cabe em todas. Alguns dizem que é uma luz estranha. Outros dizem que é uma luz diferente. Alguns afirmam que é uma luz invisível. Outros visível. A maior parte deles afirma que é uma luz que só alguns, pouco têm acesso. Outros mesmos acreditam que não a têm e procuram desesperadamente à procura de uma coisa que se encontra parada ou em movimento, estática ou em reflexo. É uma luz que não é luz, que não produz os efeitos de luz, mas que produz reflexos diferentes. É uma luz que ajuda muitos a saírem do desespero constante e do stress quotidiano. É uma luz que ajuda alguns a perderem-se, a fugirem aos encontros marcados, às reuniões estabelecidas, aos projectos definidos. Muitas dizem que se sentem mágicos quando a têm. Alguns afirmam que se sentem altos, embora não o sejam. Que podem controlar o mundo, cada um com o seu instrumento. Finalmente, há aqueles que a acham grande e poderosa demais e se sentem inertes, calados, pequenos, desaparecidos. Esta luz é diferente por isso mesmo. Cada um a sente de maneira diferente, cada um a utiliza de maneira diferente. Cada um a fixa de maneira diferente. Cada um acredita que é a base da vida. Outros acreditam ainda que ele pode construir o que já está destruído ou em queda. This light called INSPIRATION

Devaneios

Era como um objecto de arte. Quando olhamos para um objecto de arte não olhamos para algo com a perspectiva semelhante de uma engomadeira a olhar para o seu ferro ou de um agricultor a olhar para uma enxada. Quando olhamos para um objecto de arte, a nossa imaginação floresce numa criatividade delirante e a nossa sensibilidade recorre à loucura para explicitar racionalmente um fenómeno peculiar de tal e eterna beleza.
Ela olhava para mim com o seu olhar cativante de um outro século e mantinha-se distante de todo o seu apanágio estético. Os seus olhos, cobertos sob uma mancha de rímel, uma linha que lhe destacava a fogosidade do olhar, enfeitiçaram-me o espírito. Se fosse só o espírito que ela despertara… Olhei para ela, mirei-a, desprezei-a com o olhar mas anseei-a com o sexo, e perguntam vocês porque é que tenho a mão afagada sob os pêlos dos meus genitais (ri-se)? Para ter a certeza de que existo, de que valo a pena existir para puder viver e desfrutar de momentos como estes…

Falling Down

Num nevoeiro escondido que se colocou por cima do seu espírito e fez crescer em si uma sensação de perda daquilo que deixara, o menino contemplou a miragem que se situava do outro lado da janela e imaginava-se a viver perante e no meio daquela imagem. Imaginava-se a mais simples e a mais mera das folhas de um qualquer Outono… Imaginava que poderia voar, que poderia olhar o mundo sem o conhecer, e que não tivesse que pensar num futuro, já que o destino em queda estava previsto, como todas as outras folhas. Como uma erva que se contenta em estar debaixo do chão, que cresce até dar há luz, e quando há luz, ao invés de levar com o sol da manhã ou com o vento de tarde, é esmagada, levado pelo convencionalismo geracional. Como um ramo que envelhece e é obrigado a contemplar sempre o mesmo espaço, encontra-o, admira-o, contempla-o, sobrevive com ele e esquece-se tanto de o ver e de pensar que em tempos o admirava pela sua simplicidade. O olhar, perseguido pelo vazio, lastima-se de si próprio e pesa-se com o silêncio de então, um murmúrio de um nada qualquer, à espera que as lágrimas lhe mudem o sentido, o contemplem, o habitem…

Sad song

Era sempre com os mesmos pensamentos, impregnados de intenso erotismo que ela recordava aquelas noites passadas sob o sol de madrugada. A maneira como os seus pensamentos balanceavam na sua mente de menina-mulher, deleitava-a e fazia-a bambulear o corpo numa dança quase ritual. A atitude ríspida e o ego esotérico, embora vulneráveis, ofereciam-lhe uma atitude de indiferença. As roupas de mulher, pousadas sob uns seios firmes de jovem adolescente, fazia com que o desejo e a excitação daqueles que a viam, a congratulasse com sorrisos desdenhosos. O seu porte, quase neurológico e um olhar denso que vagueava inoportunamente num horizonte vago de emoções privadas, constituíam os seus faróis. A espera de alguém que ouvisse o grito silencioso dos seus lábios ou afastando tudo e todos com o seu toque de cabelo levado ao vento, ofereciam-lhe todo um semblante de magia e fascínio pouco pronunciados. Ruiva nos cabelos e nas pestanas, Alison vivia num pequeno apartamento situado nos arredores da capital. A sua postura estavam ali, mas os seus olhos indicavam outro espaço, as suas mãos outros toques, o seu nariz outros cheiros. Estava ali, mas parecia não estar… Um vulto entre um quotidiano vago, um frenesim de ideias sem sentido. Chuva em pelo verão, floco de neve sob uma praia pousada… algo que não fazia sentido, mas que lá estava e que por isso mesmo alguma coisa mudava.